
Vejo coisas com as quais me espanto sobre este tema do referendo ao aborto. Vejo acima de tudo fanatismo de ambos os lados, onde se trocam acusações atrás de acusações. Afinal, radicalismos existem em ambos os movimentos. Não me revejo em nenhumas. Vejo que aquela que deveria ser uma sondagem ao povo português, em algumas instâncias, se transforma numa questão política, apesar do que possam dizer. Senão, fará sentido o governo afirmar que a lei, caso vença o não, não será alterada? Tenho pena que não o faça, nem que mostre abertura para ouvir as alternativas que algumas facções mais moderadas apresentam. Revela que não terá assim tanto interesse em mudar o estado actual das coisas, mas com outras medidas que não a liberalização do aborto.
Ora a pergunta é simples:
"Concorda com a despenalização da IVG, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?"
Não entro em jogos de semântica nem em interpretações que não fazem sentido. A minha resposta é clara e simples: NÂO.
Tenho muitas razões para o meu voto. Talvez me soubesse bem colocar aqui todas...mas as linhas seriam poucas. Voto não pois acho que é facilitismo lutar contra o aborto clandestino, legalizando-o. Assusta-me esta ideia vinda de pessoas que afirmam a viva voz que são contra o aborto, mas depois acabam por legalizá-lo com um voto sim. Afinal, o voto sim é isso que diz, ao despenalizar irá estar a tolerá-lo, ou seja, a liberalizá-lo. Não penso ser esse o caminho a seguir numa sociedade onde há muito a fazer em termos de educação sexual, planeamento familiar. Não temos estrutura social para receber uma aborto despenalizado. É o que penso, e respeito, desde que me respeitem, quem pensa o oposto. Não acho que haja coerência em muitas das palavras que saem da boca dos defensores do sim e do não. É normal se calhar, afinal este é um assunto dúbio. Acho ainda que se há mulheres a serem criminalizadas por praticarem o aborto, é mau, mas pior é permitir que, para que estas não sejam criminalizadas e discriminadas, se permita o aborto, o tudo, sem se procurarem outros caminhos alternativos, sem o feto ser protegido. O aborto do sim acaba por anular a actual lei...é simples e matemático. Depois há o papel do pai. Onde está ele neste assunto? O sim dar-lhe-á "voto na matéria"? Bem...não acabava mais... Acho que se a lei actual está mal não devemos resumir tudo a uma única alínea, que o sim pretende acrescentar ao código penal, e que levará ao branqueamento do acto abortar. Quem o fizer, ou quiser contribuir para tal, estará obviamente no seu direito, quem quiser apoiar esta liberalização escondida numa pergunta de referendo que o faça. Eu voto não...