Monday, July 16, 2007

Do incumprimento dos partidos



"António Costa e o PS ganharam e Fernando Negrão e o PSD sofreram pesada derrota, como aliás era esperado, mas as eleições intercalares em Lisboa ficaram marcadas por outro facto não menos importante: 62% dos eleitores não votaram e entre os que votaram 27% fizeram-no em candidatos independentes. Depois do fenómeno Manuel Alegre nas últimas eleições presidenciais, os eleitores, neste caso os de Lisboa, continuam a mostrar- -se cada vez mais imunes ao chamamento dos partidos, em especial daqueles que nos últimos 33 anos têm sido responsáveis pelas soluções de governação, nas cidades e no País. Estão aqui demonstradas nestes números a crescente indiferença dos cidadãos em relação aos eleitos - mesmo descontadas as circunstâncias particulares destas eleições, disputadas em período de férias - e, igualmente, uma crescente disponibilidade para ouvir um discurso contra os partidos mesmo que feito a partir de dentro, como é o caso de Helena Roseta. Os partidos vão ter de se habituar a viver com esta realidade, que é consequência de muitas expectativas frustradas e de outras tantas promessas de campanha não cumpridas. António Costa obteve um resultado em termos percentuais e de mandatos apenas suficiente para o PS. Mas a verdade é que ganhou numa conjuntura que, se tinha um lado bom - o falhanço da governação anterior do PSD, que conduziu a eleições intercalares, também tinha um mau: o de lutar contra a eventualidade de algum voto crítico à actividade governativa do País. É esta última contingência (de o partido do Governo ter conquistado a capital), associada à fragmentação do espaço de centro-direita, que faz parecer o resultado melhor. O verdadeiro teste à proclamada capacidade política a António Costa começa agora, tendo de partir para uma governação sem maioria e de enfrentar durante dois anos uma assembleia municipal (que ontem não foi a votos) dominada pelo PSD. Preferirá, e poderá (?), ele governar sozinho, com acordos pontuais, ou fará uma coligação que lhe tornará mais difícil pedir a maioria absoluta daqui por dois anos? O PSD sai duplamente penalizado. Teve um resultado catastrófico e ainda viu Carmona Rodrigues triunfar na sua relação com os eleitores do PSD de Lisboa. Mais do que a inabilidade política de Fernando Negrão, quem verdadeiramente saiu derrotado foi Marques Mendes. Teve tempo mas não foi capaz nem de encontrar uma solução vencedora para a lista nem de negociar a saída de cena de Carmona. Vai ter de contar espingardas para enfrentar o desafio aberto de Luís Filipe Menezes à sua liderança nas "directas" que ontem decidiu antecipar. De resto, há ainda outras conclusões. Carmona Rodrigues teve êxito no discurso de vitimização e continuará na CM Lisboa como vereador. Paulo Portas e o PP pagaram duramente a delapidação do património do partido com a saída de Maria José Nogueira Pinto. Tal como o PSD, o PP também vai ter de percorrer o caminho da legitimação interna. E Helena Roseta, depois de Manuel Alegre, voltou a ensombrar a alegria de José Sócrates."


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