Tuesday, February 06, 2007

O referendo


Vejo coisas com as quais me espanto sobre este tema do referendo ao aborto. Vejo acima de tudo fanatismo de ambos os lados, onde se trocam acusações atrás de acusações. Afinal, radicalismos existem em ambos os movimentos. Não me revejo em nenhumas. Vejo que aquela que deveria ser uma sondagem ao povo português, em algumas instâncias, se transforma numa questão política, apesar do que possam dizer. Senão, fará sentido o governo afirmar que a lei, caso vença o não, não será alterada? Tenho pena que não o faça, nem que mostre abertura para ouvir as alternativas que algumas facções mais moderadas apresentam. Revela que não terá assim tanto interesse em mudar o estado actual das coisas, mas com outras medidas que não a liberalização do aborto.

Ora a pergunta é simples:

"Concorda com a despenalização da IVG, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?"

Não entro em jogos de semântica nem em interpretações que não fazem sentido. A minha resposta é clara e simples: NÂO.

Tenho muitas razões para o meu voto. Talvez me soubesse bem colocar aqui todas...mas as linhas seriam poucas. Voto não pois acho que é facilitismo lutar contra o aborto clandestino, legalizando-o. Assusta-me esta ideia vinda de pessoas que afirmam a viva voz que são contra o aborto, mas depois acabam por legalizá-lo com um voto sim. Afinal, o voto sim é isso que diz, ao despenalizar irá estar a tolerá-lo, ou seja, a liberalizá-lo. Não penso ser esse o caminho a seguir numa sociedade onde há muito a fazer em termos de educação sexual, planeamento familiar. Não temos estrutura social para receber uma aborto despenalizado. É o que penso, e respeito, desde que me respeitem, quem pensa o oposto. Não acho que haja coerência em muitas das palavras que saem da boca dos defensores do sim e do não. É normal se calhar, afinal este é um assunto dúbio. Acho ainda que se há mulheres a serem criminalizadas por praticarem o aborto, é mau, mas pior é permitir que, para que estas não sejam criminalizadas e discriminadas, se permita o aborto, o tudo, sem se procurarem outros caminhos alternativos, sem o feto ser protegido. O aborto do sim acaba por anular a actual lei...é simples e matemático. Depois há o papel do pai. Onde está ele neste assunto? O sim dar-lhe-á "voto na matéria"? Bem...não acabava mais... Acho que se a lei actual está mal não devemos resumir tudo a uma única alínea, que o sim pretende acrescentar ao código penal, e que levará ao branqueamento do acto abortar. Quem o fizer, ou quiser contribuir para tal, estará obviamente no seu direito, quem quiser apoiar esta liberalização escondida numa pergunta de referendo que o faça. Eu voto não...

17 comments:

João Gaspar said...

não vou comentar a decisão do voto "não" pq acho que é do foro íntimo e consciente (ou inconsciente, noutros casos) de cada um.
admito que na decisão do sentido de voto entrem questões de ética, logo, não acho bem discutir éticas numa lógica "a-minha-ética-é-melhor-do-que-a-tua".

no entanto, penso que os argumentos usados, esses sim, são passíveis de discussão. embora considere a discussão pouco frutífera quanto a inclinar a decisão para o lado contrário daquela que é tomada, acho que é útil quanto mais não seja para clarificar posições, esclarecer, informar melhor, etc, etc, etc.

e tu tens aí argumentos (da pergunta para baixo) que me apetecia muito comentar mas tenho que ir estudar por isso volto mais tarde.


e este comentário que já vai mais longo do que era suposto era só para dizer que sim, tens razão quanto ao fanatismo de ambos os lados, mas não podes confundir isso com a falta de abertura do governo para legislar a despenalização no caso do "não" ganhar. isso seria a prova última e irrefutável de que o referendo foi (teria sido) uma bincadeira e era gozar com a cara dos que votaram "não". o instrumento de dar a voz ao povo afinal era uma grande palhaçada (e não uma pequena palhaçada como acredito que seja). até porque se o voto "não" fosse vinculativo, acho que o governo não podia, mesmo que quisesse, legislar uma despenalização, porque o voto tinha sido o contrário.


por isso, se queres uma despenalização (e isto não é uma crítica ao teu voto), só podes votar sim. ou votar não e esperar que o sim ganhe. não, não é o ideal. mas é o que temos.


Um abraço!

Vou estudar, Beja.

Carreira said...

Obrigado pelo teu comentário rapaz :)
È verdade que do lado do sim há argumentos válidos! Sobre o governo não mostrar abertura para efectuar modificações à lei caso o não ganhe acho que é uma prova de que de sobre maneira à a tentativa de levar ao voto sim...assim como uma pequenina chantagem. Sobre a despenalização total, tb não concordo com a despenalização total...ou concordas que uma mulher aborte porque sim? Sei que muito poucos esses casos felizmente, mas que os há...há! E aí é crime consciente...É desresponsabilizar!
Há muitos argumentos que se debatem e rebatem neste momento muitos deles muito bons, do lado do sim e do não. Mas não há regra sem excepção, daí que eu não queira que a regra seja o aborto, e sim, eventualmente, a excepção.
Abraço ;)

João Gaspar said...

até prova em contrário, essas mulheres que abortam "porque sim" são uma entidade abstracta usada para afastar do debate e desinformar. mas imaginando que as há, serão sem dúvida a excepção. a regra é muito mais triste e menos leviana. e é a essa regra que é preciso dar opções. as mulheres que abortam "porque sim", havendo-as, continuarão a abortar porque sim e não por razões de força maior. se abortam porque sim é porque podem, e podendo, vão a outro lado abortar.
e no dia em que se conseguir provar que uma mulher aborta "porque sim", será também provado que essa mulher sofre de doença mental e será considerada portanto é inimputável, não se aplicando a pena que o voto não perpetua.


quanto à "pequenina chantagem" da não-despenalização caso o "não" ganhe, fazer o contrário seria uma "grande machadada" na democracia. percebo tanto de direito como de culinária, mas arrisco a dizer que seria inconstitucional. e essa proposta, em particular o timing em que surge, é apenas uma grande manobra reveladora da pequenez política de quem elegemos para nos representar. por isso se calhar até a merecemos.


Outro abraço!

Carreira said...

Sou um daqueles moderados do não! Daqueles que acha que primeiro se deve educar uma nação e apostar naquilo que nunca foi feito no nosso país: lutar contra o aborto clandestino, apostar num verdadeiro aconselhamento e planeamento familiar e definitivamente educar sexualmente. Desde o Portugal litoral, ao Portugal interior, pois vivemos num país de contrastes. A culpa até aqui tem sido da inércia dos governos, pelo que não me revejo numa atitude simplista e perigosa na sua essência que é, passar por cima destes problemas (que nao vão desaparecer)liberalizando o aborto. Penso que a excepção, o aborto, não deve passar a ser a regra... Até concordo que a mulher não deve ser penalizada por cometer o aborto, afinal há razões que a própria razão desconhece. Por princípio outra coisa que me leva ao não é o facto de esta pergunta ser uma fachada semântica.
Acho que não temos estrutura social para acatar com uma liberalização, sendo que também acho que o aborto clandestino não deixará de existir: afinal, a ser liberalizado será feito onde? Nos hospitais? Haverá gente que acredite que sim...ou do sim! Eu não acredito. Será feito em clínicas? Provavelmente. E os custos? Será de graça? Também acho que não...À borla? muito menos...Ou terá que ser pago? Talvez...muito provavelmente, e neste caso se calhar voltamos ao ponto inícial...e novamente se recorra ao aborto clandestino! Enfim...assunto sem fim este! Repito, afinal não será mais coerente apostar naquilo que nunca foi feito? Acho que sim, acho mesmo que sim...
Sobre a minoria das mulheres que abortam porque sim, de facto foi um exemplo absurdo, o mais absurdo talvez que poderia ter escolhido, mas olha que anda para aí muita gente insana ;)
Abraço ainda maior

João Gaspar said...

Que se deve educar o povo totalmente de acordo. seja lá como for que isso se faz. educação sexual, planeamento, etc. COMPLETAMENTE de acordo. e mais ainda qd falas do Portugal Litoral vs. Interior

(nota: aqui há uns anos, era o PR primeiro-ministro, disse que não viu umas notícias porque estava no Alentejo profundo* e não teve acesso, o que é paradigmático da diferença que os governantes não só não colmatam como parece que preconizam entre dois "portugais")

mas isso não acaba com o aborto que já existe. demora gerações e durante essas gerações, muitos abortos serão feitos e são estes que importa penalizar ou não penalizar. é essa a questão. literalmente essa a questão.


agora por pontos:
. seja num hospital ou em clínicas, agora NÃO existe essa opção. logo, e num cenário hipotético em que haveria uma lógica de mercado e concorrência entre aborto legal vs. clandestino, isso poderia não acabar com o negócio do clandestino, mas aumentar é que não aumentava. só poderia diminuir porque estarias a colocar à disposição do cliente uma opção. se agora não há nenhum aborto no SNS ou privado, o primeiro que se faça será sempre um aborto clandestino a menos.

. claro que se deve apostar no que nunca foi feito, na educação pré-gravidez, sem dúvida, mas não invalida que se legisle a despenalização. são coisas pararelas a meu ver. e não impossíveis de conciliar.
(embora tivesse sido mais coerente se tivessem apostado nisso os defensores de hoje e de outrora no "não". os que levaram à vitória do não na altura e governaram desde então: governos de durão, santana, cds, e guterres incluido)


e prontos, era isto.

ah, embora também me agradasse que os "nãos" moderados contassem só meio voto, mas são iguais aos outros. e se há questões de fachada semântica na pergunta (não discuto - estariam lá qualquer que fosse a pergunta), não me parece que vão existir nas opções da resposta. ainda não vi o boletim, mas cuido que não haverá nenhum quadrado para o "nãozinho".

Grande Abraço.


*estava em Beja, o sacana.

Barão d'Holbster said...

Olá Carreira

Não é nada pessoal, mas vou ter de afirmar categoricamente que votar não é incoerente e inconsequente. Vou tentar explicar porquê:

1) Sobre a lei:

Antes de mais devo referir que o que se está a referendar é uma lei. O que os defensores do não apregoam é algo paradoxal. Não querem que o aborto seja despenalizado. Querem que a lei actual simplesmente não seja aplicada. Ora, isto além de ser uma hipocrisia (se não queremos que uma lei seja aplicada porque a deveremos ter no nosso plano legal?) é na realidade querer a despenalização do aborto. Além do mais esta posição revela algo ainda mais flagrante: Se os defensores do não desejam que a actual lei não seja aplicada no futuro, então pressupõem que o aborto vai continuar a existir. O que resulta numa posição muito estranha, ou seja, sabem que o aborto vai continuar a existir, mas preferem que este seja feito clandestinamente e mas que não seja punível. Uma posição no mínimo incoerente.

2) Sobre a utopia:

A resposta que os defensores do não dão às razões invocadas para a realização do aborto são utópicas. O que eles dizem é que se deveria ter sempre a criança, pois o estado ou outras instituições deviam criar estruturas para apoiar a família das crianças. Para já seriam incomportável financeiramente para o estado ou qualquer instituição este tipo de suporte (se já não consegue ajudar as que cá andam, quanto mais as que estariam para vir). E depois há quem ache que, apesar de ter engravidado, não estar preparado para ter a criança. Aqui as coisas vão para além do monetário. Por exemplo, mães muito jovens.

3) Sobre a natureza:

Os defensores do não para serem coerentes deviam querer a revogação da actual lei por uma que proibisse terminantemente o aborto, possivelmente através de uma punição penal. Do ponto de vista da defesa da “vida”, o embrião deveria ser protegido em qualquer situação, caso contenha uma má formação ou seja fruto de uma violação, por exemplo. No caso de risco de vida para a mãe, uma vez que o valor da vida do embrião e da mãe são colocados ao mesmo nível, deveria-se deixar ver quem “ganha” (mesmo sabendo que o corpo da mulher nesse caso faria tudo para que o embrião sobreviva mesmo em detrimento da sua própria vida). No entanto este tipo de postura é muito difícil de aceitar, mesmo para os defensores do não. Os defensores moderados do não aceitam a actual lei, ou seja, aceitam a realização do aborto nalguns casos, sendo assim lógico concluir que a “vida” do embrião tem um valor relativo, o que deita por terra o argumento da defesa do valor da “vida” para se votar não neste referendo. Assim sendo, os defensores do não acham que uma gravidez deveria ser levada a cabo em todas as circunstâncias, Isto seria, obviamente, completamente inconsequente.


É claro que a consequência, caso o sim ganhe, não é a resolução de todos os problemas. Deveria ser levado quanto antes um programa de educação sexual nas escolas (que por acaso é também censurado por muitos defensores do não) e prestar-se um apoio muito mais efectivo às mulheres que desejem abortar. No entanto votar sim é desejar que isto aconteça, é um acto de acção. Votar não é desejar que tudo fique na mesma. Mesmo que muito digam que as mulheres irão ter todo o apoio que precisam, isso não irá acontecer, aliás tal como aconteceu após o último referendo sobre este tema.

Só para finalizar, votar não é um acto cobarde e injustamente penalizador. É uma posição de salvaguarda de uma moral inválida e precária. É apelar à inépcia.

O voto no sim é uma posição de esperança e realismo. Apesar de tudo podemos tentar. Desde o último referendo já vimos que o “não” nada resolveu. Que tal dar agora uma oportunidade ao sim?

Bastet said...

Cheguei aqui pelo blog do Barão onde respondi quais os meus motivos para votar NÃO. Deixe-me dizer-lhe que prefilho por completo a sua posição e os seus argumentos. A necessidade da lei ser revista e o aborto dever ser excepção e não regra. Foi bom lê-lo!

Carreira said...

Obrigado pelo comentário! Tive oportunidade de ver o comentário que colocou no blog do Barão e foi muito bom lê-lo. Obrigado mais uma vez!

Anonymous said...

Como mulher, penso que UTOPIA é pensar que todas as mulheres com o aborto despenalizado não o vão realizar só porque SIM! A experiência de vida que tenho não é muita, mas tenho experiência em viver com mulheres! E sabes que mais caro Barão, não confio nas mulheres (confio na minha mãe, claro!). Sei que é mau “tal coisa” ser escrita pelas mãos de uma mulher, mas também sei que há excepções. Contudo, por a maioria não ser a excepção e por viver numa sociedade onde se dá “uma mão” e “agarram-te o braço”, não ficaria bem com a minha consciência votar em algo que promove a morte.
SOU PELA VIDA! A minha conduta é esta!
Entretanto podes perguntar-me: “ se és pela vida, porque votas em algo que deixa que o aborto clandestino continue, colocando em risco a vida da mulher?”Incoerente, não é?!
Não, não o é!
Voto “não” porque tenho ideias e palavras utópicas (afinal só me contradigo), que representam a falta de vontade de uma sociedade e são exemplo de má gestão de dinheiros! O que eu quero dizer com isto, é que a Utopia passa a ser real se as prioridades dos governos fossem revistas, e se o dinheiro direccionado para o apoio social estivesse nas mãos certas!
Sou pela vida, sou pela gravidez, sou pelo(a) filho(a)! Sei o valor que uma vida tem, tu sabes? Por isso voto “não”!
Antes de chegar ao aborto como solução de todos os problemas, há um vasto caminho a ser percorrido!
- Aposto em mais divulgação dos meios contraceptivos e na educação sexual, por todo o país, assim como no apoio a quem não tem possibilidade de os adquirir!
- E se os meios contraceptivos falham: porque se esqueceu de tomar a pílula? Porque o preservativo rompeu, soltou-se? Porque estavam bêbados e não usaram meios? Há que ser consciente neste caso e tomar a pílula do dia seguinte! E sabes que mais, eu já tomei 2 pílulas do dia seguinte. E sabes quais foram os efeitos secundários? Nenhuns! Tu já a tomaste para afirmar o que disseste no teu blog? Conheces alguém que já o tenha feito DENTRO DO PRAZO QUE É INDICADO E COM ACONSELHAMENTO? Se sim… desculpa a rispidez! Mas seja como for deixo aqui uma citação de uma ginecologista:” Administrada de maneira responsável, ela é um bom método para EVITAR UMA GRAVIDEZ INDESEJADA”! Não é para interromper, ou melhor, não é um aborto!
- Se foram conscientes a ter a relação, e usaram os métodos contraceptivos, mas estes falharam! Bom, vamos com calma!
No caso das jovens mães: é uma gravidez indesejada? Não digas que é indesejada se nunca passaste por ela. Tens vergonha de dizer aos teus pais, claro! Mas mais vergonha tinha eu para o resto da minha vida se acabasse com uma vida humana! Os teus pais não te vão por fora de casa, não te vão abandonar! Vão dar-te na cabeça, claro! Mas vão dar-te todo o apoio, sim vão! São PAIS, já sabem o que isso significa! Não é utópico, é REAL!
No caso financeiro: há apoios, há assistência social. Não há??!! Então criem-nos!!! CRIEM-NOS!! FOMENTEM A VIDA AO REVÉS DE A ELIMINAR!! E se a criança nasce e continua a ser indesejada? Há casas de acolhimento, há adopção! Injusto para a criança porque a maioria das instituições talvez não tenham as melhores condições? Então o caro portuga, se se julga tão evoluido, aprenda a gerir o seu dinheiro, e deixe de ser comodista e cínico! Se o estado tem dinheiro para construir estádios (e tive que o dizer), e se um brasileiro conseguiu mobilizar um povo de nacionalidade que não a sua para uma causa como o futebol, o estado TEM QUE arranjar maneira para mobilizar as pessoas certas, porque as há, e canalizar o dinheiro e geri-lo para que possa acolher aqueles que vão fazer parte do futuro do país! Maa delinquência aumenta entre as crianças que crescem nestes meios, diz-me um passarinho! Aumenta porque a responsabilidade está nos adultos que educam as crianças, e na sociedade em que elas vivem, não são elas as culpadas! Ai, parte de cada um de nós! Podes dar tu o teu próprio contributo! Mais uma vez é uma questão de prioridades e de boa vontade, nada mais…
É muita utopia? Não… é só uma questão de ser justa! Já viste as coisas pelas quais uma criança paga com a sua própria vida, quando toda a responsabilidade da sua existência de deve a pessoas como nós que não sabem ser um pouco mais HUMANAS?
E gostava de dizer algo mais… nós outros gostamos de dar palpites, por vezes até de coisas que não sabemos como elas são na realidade! Porque não tentar saber e falar com as mulheres que fizeram o aborto, com aquelas que foram condenadas (porque ai sabemos qual a sua identidade), e pedir a quem o fez lá fora coragem para dar o seu testemunho e para ajudar a salvar mais vidas? Porque não tentar saber as verdadeiras razões? Se o voltavam a fazer? E o que as teria evitado de o fazer… Será que custa muito?
Há, e se o “ não” ganhar por pouco, espero mesmo que o governo tome uma atitude! O resultado é mais do que uma prova que todos querem mudar! Vamos ser mais humanos e menos políticos…
Se o “sim” ganhar, vamos todos rezar, crentes e não crentes (à imagem do que aconteceu no europeu e no mundial de futebol, pelos vistos todos o sabem fazer quando a situação assim o exige), e pedir a Deus ou a quem tu acredites, para que faça uma lavagem cerebral ao povo português e os ponha pensar de igual modo no que diz respeito ao aborto!

Bastet said...

Caro Carreira: Volto aqui para lhe dizer que o nosso amigo Barão já me respondeu e eu... que não consigo ficar em paz nesta minha moral retrógrada ;) já lhe contra-respondi :)
Se quiser ir lá espreitar, fico-lhe grata.
Agradeço ainda a sugestão de postar no meu blog sobre este assunto. Tenho andado a evitá-lo se bem que fiz um curto post chamado "princípio da igualdade" sobre o aborto. O problema é que são poucas as pessoas que ainda estão para ler seja o que for sobre o assunto. Como dizia o Vasco Pulido Valente as pessoas pertencem a grupos e irão votar conforme o que os seus grupos mandam...
mais uma vez o meu obrigado e um bem haja.

Barão d'Holbster said...

Cara MM
Passo só para dizer que estou a preparar a reposta para a tua "provocação". Vejo que este tema se inflama dentro de ti.
No entanto deixa-me só dizer que:
1) Nunca tomei a pílula do dia seguinte.
2) Conheço quem já tomou
3) Não acredites em tudo que os médicos dizem. Eles não são deuses que sabem tudo, muito pleo contrário. (já agora sabes qual é o mecanismo da píluda do dia seguinte? Aquilo é mesmo uma bomba...)
4) Se tiver ocorrido fecundação no acto sexual não vejo razão para que a pílula não seja abortiva. Ou afinal só há aborto quando há nidificação (acto do embrião se ligar às paredes do útero)? Se a vida começa no acto da fecundação do óvulo pelo espermatozóide, todo o acto que leve a que essa "vida" não progrida deveria ser considerada aborto, ou estarei errado? Nos comentários do meu último post do meu blog falo exactamente sobre o uso da pílua do dia seguinte (ou pílula pseudo-abortiva, pois nunca se sabe se se provocou um aborto, e assim sendo, parece que a pseudo-"vida" do embrião também passa a ter um peso relativo).
Prometo que voltarei com uma resposta mais detalhada. Prometo revelações bombásticas...
Um abraço

Bastet said...

Vim aqui para lhe dizer que, considerando sobretudo a sua sugestão e contra a minha preguiça e pouca vontade de discutir, acabei por postar um texto justificativo do meu NÃO. Espero que o possa ler.

Barão d'Holbster said...

Cara MM

Gostaria de ter respondido mais cedo. Mas infelizmente passei o fim-de-semana sem acesso à Internet.

Então aqui vai. Começo por te citar...



“Voto “não” porque tenho ideias e palavras utópicas (afinal só me contradigo)”

Quando escreveste isto pensava que estavas a ser irónica. Afinal de contas estavas mesmo a ser verdadeira... Ponho assim as coisas, porque tiveste a liberdade de me provocar, assim passo a bola para o teu campo.



Mas passemos ao que interessa.



Ponto 1) A mim o que me interessa era conhecer alguém que que conhecesse o valor da vida. Eu confesso que não conheço. Será que me podes dizer?

Conheces o exercício de ética dos alpinistas em risco? Mesmo que conheças vou aqui contar para que todos fiquem em igualdade de circunstâncias. Os alpinistas quando andam na montanha andam sempre ligados por um fio de modo a que se um cair a sua queda possa ser amparada pelos companheiros. Imaginemos uma coluna de 4 alpinistas todos ligados por uma corda no meio de uma tempestade de neve. Acontece que o último alpinista da fila escorrega e fica suspenso numa ravina. A situação é tal que os 3 alpinistas restantes não o conseguem puxar. Têm então de tomar uma decisão: Ou mantêm o alpinista suspenso e acabam todos por morrer de frio pois não conseguem sair dali ou cortam a corda deixando o alpinista suspenso morrer salvando-se os restantes três. Aqui coloca-se um problema de valor de vida. Obviamente a resposta a que se chega, quer a partir de uma reflexão ligeira quer após uma grande e profunda reflexão é que, eticamente, é aceitável cortar a corda, pois sempre se salvam 3 vidas ao invés de se perderem 4. Pelo menos poder-se-á dizer que 3 vidas valem mais que uma. Não digo mais nada, deixo o resto da reflexão contigo.



Ponto 2) Vamos lá de novo à utopia. É claro que é uma utopia delegar ao estado (ou a quem quer que seja) a responsabilidade de arcar com o fruto das gravidezes indesejadas, por mais inconscientes que tivessem sido (sim, porque ao contrário daquilo que pensas, acredito nas gravidezes indesejadas. Gravidezes indesejadas são aqueles que são fruto de uma relação sexual que na altura teve somente com o objectivo o prazer carnal mas que não visava a procriação. Eu acho que as pessoas podem/devem ter relações sexuais somente com o objectivo do prazer e não somente para a procriação. É claro existe sempre o risco de haver uma fecundação. Não existe nenhum método contraceptivo 100% eficaz, excepto a laqueação, assim sendo a partir de um acto sexual existe sempre a possibilidade de uma gravidez). O estado é como uma grande empresa, tem de definir prioridades porque tem um orçamento limitado. Por mais duro que isto possa parecer, se calhar é mais rentável para o estado, logo para a sociedade, construir estádios do que casas abrigo para crianças com proveniença de gravidezes indesejadas. É mais rentável investir em multi-nacionais que em lares para acolher dignamente os velhos que se despejam nas urgências dos hospitais. Se calhar é mais rentável investir em formação que arranjar casa para aqueles que a não têm. É duro, é frio, mas é a realidade. O oposto, um estado "totiprovidente" é uma utopia. Se acreditas que será possível um estado que consiga dar resposta a todos os problemas sociais, terei de afirmar categoricamente que és utópica...

Depois potenciar a criação de crianças só pelo gozo que a coisa dá parece-me ser inconsequente. O povo Português, ao contrário daquilo que possa parecer não é burro, e não é por acaso que tem uma das taxas de natalidade mais baixas da Europa e continua a descer. Nas condições socio-económicas actuais quem quererá ter um filho? Não terão os pais o direito (e/ou o dever) de criar os seus filhos com a dignidade que acham que merecem? Ou vamos fomentar a “vida” e a gravidez só porque o “milagre” da vida é bonito mesmo que não tenhamos condições para tal. É uma imagem bonita mas idílica...



Ponto 3) Quanto à pílula do dia seguinte

“Administrada de maneira responsável, ela é um bom método para EVITAR UMA GRAVIDEZ INDESEJADA”! Não é para interromper, ou melhor, não é um aborto!
- Se foram conscientes a ter a relação, e usaram os métodos contraceptivos, mas estes falharam! Bom, vamos com calma!”

A pílula do dia seguinte evita uma gravidez indesejada porque pode provocar um aborto pelas razões que já expliquei no comentário anterior. Mas este teu trecho transmite uma ideia interessante. Se as pessoas tiveram relações sexuais quando estavam bêbados e se esqueceram de colocar preservativo, bom ela deve engravidar e levar a gravidez até ao fim. Bom, se foram conscientes e usaram métodos contraceptivos, bom, vamos ter calma. O que quer dizer esta “calma”? Nestes casos já se poderiam realizar um aborto? Isto soa-me a lei do antigo testamento. Se foram inconscientes devem ser punidos com tri-gémeos e ter de os criar até ao fim da vida, se tomaram cuidado, bom aí vamos ter calma. Acontece da perspectiva da “vida” do embrião tanto faz que estivessem bêbados ou não. Afinal, o valor da vida depende do teor alcoólico das pessoas no acto sexual? Interessante...



Ponto 4) Era agora para falar dos benefício sociais consequentes da despenalização do aborto, mas não o farei, porque poderá ser, visto por mentes pre-conceituosas, mal interpretado. Poderei afirmar, no entanto, que está provado.

Acrescentarei só mais uma coisa.

Na Natureza não há aborto, pelo menos feito por parteiras, mas existem fenómenos curiosos. Se a um casal de ratos for dada comida ilimitada mas num espaço físico limitado, o que acontece, é que após se estabelecer um “ratio” de ratos por unidade de espaço, a fêmea começa a matar os recém-nascidos. Porquê? Porque naquele espaço não cabem mais ratos, no entanto ela não pode deixar de ficar grávida, os ratos machos são muito insistentes, por isso é assim que ela resolve o “problema”. Por mais reflexão ética que se tenha, acho que a Natureza contém muitos ensinamentos que podem ser aproveitados...

Unknown said...

basicamente já estou cansada de tanto sim e não, cabeças pra cima e pra baixo, para um lado e pro outro... mas é "a bem da nação". Portugal devia ter um rótulo assim "Agitar antes de usar".

Apesar de meio entediada, alguma coisa me prendeu aqui.. penso que primeiro foi a perplexidade perante o comentário da "mm". Depois, resolvi postar isto só pra dizer que esta resposta do barão é deveras pertinente e que é graças a este tipo de raciocínio que confio que o "sim" é um voto esclarecido.
atrevo-me a dizer que é o voto esclarecido.
Já fiz extrapolações de hipotéticas posições do não e não consigo rever-me em nenhuma. E eu que sou utópica! Enfim, a meu parecer todos os fios condutores do "não" estão torcidos, quebrados, conduzem a lado algum, senão a um cordão umbilical intacto.
Ora, concordo que o aborto, a ser feito, não o é com essa leviandade que tanto apregoam como motivo contra. Até parece que com a despenalização se pretende matar os putos todos! Pelo contrário, o investimento nas políticas sociais não deixa de ser uma prioridade.
E já chega, não? eu nem dormi nada hoje a pensar se aborto ou não... o estudo pro exame de amanhã :P

Anonymous said...

Tive a (in)felicidade de escrever um comment mais personalizado que os anteriores...
Respeito e aceito a vossa posição, ao contrário do que insinuam por eu ter uma opinião diferente da vossa!

Barão d'Holbster said...

Cara MM
Não vale a pena fazer beicinho.
Acho que todos aqui respeitamos as opiniões uns dos outros.
E, sinceramente, nunca achei que fosse infelicidade a possibilidade de se fazer uma salutar troca e discussão de ideias.
É por isso mesmo que gostaria de congratular a tua coragem, sinceridade e até mesmo rebeldia, da tua opinião sentida.
Afinal de contas o Carreira até nos devia agradecer por promover no seu "estaminé" uma discussão tão vital...

Carreira said...

Tomando como repto o último comentário do barão, agradeço a todos a discussão que aqui tivemos sobre este post. Obrigado a todos uma vez mais :)