Saturday, February 18, 2006

A censura liberal

Este cartoon anti-guerra, de Michael Leunig, foi "censurado" pelo jornal australiano, The Age, que recusou a sua publicação em 2002,com o argumento de que não era "apropriado". Na liberal Austrália...

3 comments:

Ledbetter said...

Ah…foi censurado por um jornal! Que coisa horrível! Que tamanha violência! Enfim…
Não sei se o tipo (Evaristo) do Abrangente percebeu mas os jornais podem publicar exactamente o que lhes apetecer pois vivem sobre a plataforma de liberdade de expressão. Se cometeram alguma ilegalidade que sejam punidos legalmente por um tribunal. Se a direcção do jornal ficou indignada com uma caricatura (na verdade muito mais irresponsável e ofensiva do que a de Maomé) e se decidiu pela omissão, qual é o problema? Incendiaram e apedrejaram embaixadas do Irão ou de outros países muçulmanos? Queimaram bandeiras? Apelaram ao ódio e homicídio de muçulmanos? Extraditaram estrangeiros? Mas existe algum tipo de comparação na forma e conteúdo com o modo de reacção entre os dois casos? Fico mesmo indignado com a falta de honestidade intelectual e irresponsabilidade de um tipo que diz que “ A cruzada contra os muçulmanos prossegue. Quanto ao jornal…o Evaristo deve ter procurado muito por todo o mundo para ter que recorrer a um jornal dos confins do mundo.
E tu, Carreira? Qual é a tua opinião? Eu sei que tens tirado excertos de vários blogs mas ainda não compreendi bem a tua posição pois pareces dar uma no cravo e outra na ferradura. Apoias este tipo de exercício cego de pensamento ou consegues separar as águas. Haja discernimento, meu amigo!

Carreira said...

Caro ledbetter, sabes bem qual a minha opinião! É nesta matéria a mesma que a tua. Simplesmente tento colocar aqui precisamente, vários pontos de vista, de diferentes proveniências, no sentido de podermos ter uma ideia da divergência de opiniões sobre esta matéria. Eu sou a favor da liberdade de expressão...Claro que a partir do momento em que exercemos a nossa liberdade podemos vir a ser julgados por isso, de acordo com as regras nas quais a nossa liberdade assenta. Parece confuso? Eu acho que não...
Acho também que pode haver responsabilidade, e DEVE haver responsabilidade, quando nos manifestamos livremente. Contudo. acho que nunca, NUNCA mesmo, nos devemos acobardar e devemos SEMPRE manifestarmo-nos. Afinal, somos livres. O que coloquei aqui sobre este jornal, é, e interpreto-o mais, como um exemplo de censura incompreensível (ou talvez não - se tivermos em linha de conta o que aconteceu pós-publicação das caricaturas de Maomè) num país tão liberal como é a Austrália. Só isso, meu amigo!

Ledbetter said...

Gostei que tivesses sublinhado a palavra DEVE pois como sabes a responsabilidade é um conceito abstracto que depende de cada um de nós. A responsabilidade é a boa consciência ou civismo de cada um. Qualquer limitação a esta liberdade de sermos irresponsáveis só pode vir do indivíduo, mas não pode e não deve existir qualquer limitação exterior ao indivíduo. Qualquer notícia poderá ser à partida possivelmente inconsciente e irresponsável, resta ao tribunal investigar a situação. De qualquer maneira eu percebo que gostes (e fazes bem) de apresentar vários pontos de vista (mesmo que não concordes totalmente) apesar de que no caso de discordares deverias colocar um comentário ou informação suplementar.

Quanto à questão da censura do jornal australiano, apesar de eu não concordar , voltamos à mesma questão inicial:

Acho que cada jornal deve ter a liberdade de seleccionar e publicar o que bem entender pois ...são livres de o fazer! O nosso entendimento de liberdade, de expressão e opinião, tem no centro o direito de os outros se exprimirem (ou não) com toda a liberdade, mesmo que isso nos ofenda. Se infringiram alguma lei da Constituição, do Código Penal e da Lei de Imprensa, seja por difamação, calúnia ou muitos outros crimes que atentam contra o bom-nome de algum indivíduo ou grupo, que sejam penalizados por um tribunal estadual! Não me parece que foi o que aconteceu aqui.

Se começamos a condenar o conteúdo dos jornais, para onde vão as revistas religiosas, revistas sindicais, os jornais de cada clube e os próprios jornais de maior tiragem conotados com afinidades políticas? Não seleccionam estes exactamente o que bem lhes apetece de acordo com os seus valores? Não me choca por vezes o que escrevem ou não escrevem? Não ofendem por vezes os sentimentos de quem não se revê nas notícias? E depois? Não tem legitimidade de o fazer?

Esta post dá uma ideia de que os 2 casos são comparáveis, equiparáveis e igualmente condenáveis, mas não o são de maneira nenhuma! Não o são nem nas causas nem obviamente nas reacções! O objectivo oculto de querer confrontar os 2 casos e dar-lhes o mesmo valor é que é, na minha opinião, uma irresponsabilidade! Trata-se da liberdade de cada jornal de publicar o que bem entender! Resta ao leitor comprar ou não o jornal.

É o direito de os outros dizerem aquilo que mais nos choca, ou , como neste caso, de não o dizerem (que é uma maneira de expressão), que quem ama a liberdade defende acima de tudo.

Vivemos com esta realidade de podermos ser ofendidos com alguma informação ou desinformação, não é perfeita, mas é melhor do que o seu contrário.


PS : O jornal não representa o pensamento do país liberal e laico Austrália.